Eu sou Protetor do meu Irmão
Dos sobreviventes do Holocausto, muitos devem suas vidas à ajuda desses, a priori, observadores. Desde 1963, o Museu Yad Vashem, em Jerusalém, já reconheceu diversos nomes – entre homens e mulheres, católicos romanos e russos ortodoxos, batistas e luteranos, enfermeiras e babás, colegas e vizinhos, empregados e amigos – que arriscaram suas vidas e as de suas famílias para salvar judeus perseguidos. Essas pessoas ignoraram as leis, opuseram-se à opinião pública e decidiram fazer o que lhes parecia certo. De acordo com a tradição judaica, “quem salva uma vida, salva o mundo inteiro”.
Até hoje, o Museu Yad Vashem reconhece e homenageia novos “Justos”. Eles são condecorados (mesmo postumamente), recebem um certificado de honra e têm o privilégio de ter seus nomes adicionados ao Jardim dos Justos. Dois brasileiros fazem parte desse hall: Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa e Luiz Martins de Souza Dantas.
O conceito de “Justos entre as Nações” (chassidei umot haolam, em hebraico) vem da tradição judaica e remonta ao tempo bíblico. Todos os anos, durante a festa de Pessach, os judeus lembram a filha do Faraó, que desafiou suas ordens de jogar os meninos hebreus nas águas do Nilo, violou o decreto do pai e salvou Moisés. Ao ver o recém-nascido no cesto, ela o escondeu e o criou como seu próprio filho. De atitudes heroicas como a da filha do Faraó surgem perguntas: como um ser humano pode vencer seu instinto de sobrevivência? Quando o natural seria fugir das chamas, como arriscar sua vida e a de seus próximos em nome de valores maiores do que a própria existência? O heroísmo não é a regra, mas sim a exceção.
Os Justos representam o repositório do conhecimento sobre o ser humano – tanto do saber amargo sobre o lado iníquo quanto do saber glorioso sobre a bondade antinatural de que o homem é capaz ao cuidar de seus irmãos. O relato sobre os Justos é também o relato sobre os valores, sua fragilidade e a necessidade de preservar esses princípios em uma sociedade que parece, cada vez mais, abdicar da sensibilidade. Lembremos que as narrativas que trazem o altruísmo sempre vêm acompanhadas de descrições sombrias. O medo, a chantagem, a vileza e a crueldade se entrelaçam aos atos mais nobres. Por isso, devemos honrar os indivíduos que escolheram ir contra as massas em nome daqueles valores que faltaram aos indiferentes ou àqueles que perseguiram as vítimas.
FONTE: Disponível em: https://www.museudoholocausto.org.br/memoria/o-holocausto/os-justos-entre-as-nacoes-e-o-brasil/. Acesso em 12 mar 2025.