
Moldando a Opinião Pública
A propaganda nazista foi cuidadosamente planejada e aplicada ao longo dos anos. Antes de assumir o poder, o partido de Hitler utilizou uma propaganda de adesão para conquistar a simpatia do povo alemão. Esse processo durou mais de uma década, até que, em 1933, Hitler chegou ao poder como Reich. A partir desse momento, os nazistas usaram a propaganda de forma eficaz para obter o apoio de milhões de alemães, primeiro em um regime democrático e, posteriormente, em uma ditadura, facilitando a perseguição, a guerra e, por fim, o genocídio.
Desempenhando um papel fundamental na perseguição e destruição dos judeus na Europa, a propaganda nazista incitou o ódio e fomentou a indiferença em relação ao destino dessa população. Os nazistas, propagandistas habilidosos, utilizaram técnicas publicitárias sofisticadas e a tecnologia mais avançada da época para disseminar suas mensagens. Os estereótipos e imagens veiculados não eram inéditos, mas já eram familiares ao público-alvo.
Uma vez no poder, Adolf Hitler criou um Ministério de Iluminação Pública e Propaganda para moldar a opinião pública e o comportamento alemão. Em 1933, foi estabelecido o Ministério do Reich de Esclarecimento Público e Propaganda, liderado por Joseph Goebbels. O objetivo desse ministério era garantir que a mensagem nazista fosse amplamente comunicada por meio da arte, música, teatro, cinema, literatura, rádio, materiais educacionais e imprensa.
A propaganda nazista era direcionada a diferentes públicos. Aos alemães, era constantemente reforçada a ideia da luta contra inimigos estrangeiros e da suposta subversão judaica. Nos períodos que antecederam legislações ou medidas executivas contra os judeus, campanhas propagandísticas criaram um ambiente permissivo à violência, como ocorreu em 1935, antes das Leis Raciais de Nuremberg, e em 1938, antes da onda de legislação econômica antissemita após a Kristallnacht. Além de incentivar a violência, a propaganda promoveu a passividade e a aceitação das medidas impostas pelo governo nazista, retratando-o como um agente de “restauração da ordem”.
Outro tema recorrente na propaganda nazista foi a discriminação, real ou percebida, contra alemães étnicos em países do leste europeu que ganharam territórios às custas da Alemanha após a Primeira Guerra Mundial, como Tchecoslováquia e Polônia. A estratégia buscava reforçar a lealdade política e a consciência racial entre essas populações, ao mesmo tempo em que tentava enganar governos estrangeiros, incluindo as Grandes Potências Europeias, para fazer parecer que as exigências da Alemanha nazista por concessões e anexações eram justificáveis.
Com a invasão alemã da União Soviética, a propaganda nazista intensificou a associação entre comunismo soviético e judaísmo europeu, apresentando a Alemanha como defensora da cultura “ocidental” contra a “ameaça judaico-bolchevique”. Esse discurso ganhou ainda mais força após a derrota alemã em Stalingrado, em fevereiro de 1943, sendo utilizado para mobilizar tanto civis quanto soldados, policiais e auxiliares não alemães nos territórios ocupados. Essa abordagem pode ter sido instrumental para convencer nazistas e não nazistas, bem como colaboradores locais, a continuar lutando até o fim.
O papel dos filmes – Em particular, desempenharam um papel importante na disseminação do antissemitismo racial, da superioridade do poder militar alemão e da maldade intrínseca dos inimigos, conforme definido pela ideologia nazista. Os filmes nazistas retratavam os judeus como criaturas “sub-humanas” infiltradas na sociedade ariana. Por exemplo, The Eternal Jew (1940), dirigido por Fritz Hippler, retratava os judeus como parasitas culturais errantes, consumidos por sexo e dinheiro. Alguns filmes, como The Triumph of the Will (1935), de Leni Riefenstahl, glorificavam Hitler e o movimento nacional-socialista. Outras duas obras de Riefenstahl, Festival of the Nations e Festival of Beauty (1938), retratavam os Jogos Olímpicos de Berlim de 1936 e promoviam o orgulho nacional pelos sucessos do regime nazista nas Olimpíadas.
O papel dos jornais – Jornais na Alemanha, acima de tudo Der Stürmer (O Atacante), publicaram charges que usavam caricaturas antissemitas para retratar os judeus. Depois que os alemães começaram a Segunda Guerra Mundial com a invasão da Polônia, em setembro de 1939, o regime nazista empregou propaganda para convencer civis e soldados alemães de que os judeus não eram apenas sub-humanos, mas também inimigos perigosos do Reich alemão. O regime visava obter apoio, ou pelo menos aquiescência, para políticas destinadas a remover os judeus permanentemente das áreas de assentamento alemão.
Encobrindo atrocidades e assassinatos em massa – Durante a implementação da “Solução Final”, o assassinato em massa dos judeus europeus, oficiais da SS nos centros de extermínio obrigaram as vítimas do Holocausto a manterem o engano necessário para deportar os judeus da Alemanha e da Europa ocupada da forma mais suave possível. Oficiais de campos de concentração e centros de extermínio forçaram os prisioneiros, muitos dos quais logo morreriam nas câmaras de gás, a enviar cartões-postais para casa, afirmando que estavam sendo bem tratados e vivendo em boas condições. Dessa forma, as autoridades dos campos usaram propaganda para encobrir atrocidades e assassinatos em massa.
Em junho de 1944, a Polícia de Segurança Alemã permitiu que uma equipe da Cruz Vermelha Internacional inspecionasse o campo-gueto de Theresienstadt, localizado no Protetorado da Boêmia e Morávia (atualmente, República Tcheca). A SS e a polícia haviam estabelecido Theresienstadt, em novembro de 1941, como um instrumento de propaganda para consumo doméstico no Reich Alemão. O campo-gueto foi usado como justificativa para os alemães que estavam intrigados com a deportação de judeus alemães e austríacos idosos, veteranos de guerra deficientes ou artistas e músicos conhecidos localmente “para o Leste” para “trabalho”. Em preparação para a visita de 1944, o gueto passou por um programa de “embelezamento”. Após a inspeção, oficiais da SS no Protetorado produziram um filme usando moradores do gueto como demonstração do suposto tratamento benevolente que os “residentes” judeus de Theresienstadt desfrutavam. Quando o filme foi concluído, oficiais da SS deportaram a maior parte do “elenco” para o centro de extermínio de Auschwitz-Birkenau.
Em resposta à crescente conscientização internacional sobre as atrocidades nazistas, os nazistas decidiram permitir que um comitê de investigação da Cruz Vermelha visitasse o gueto de Theresienstadt, na Tchecoslováquia. Medidas elaboradas foram tomadas para disfarçar as condições no gueto e retratar uma atmosfera de normalidade. Essa filmagem, que mostra uma apresentação orquestral, é parte de um filme de propaganda alemão feito após a visita da Cruz Vermelha a Theresienstadt.
Mobilizando a população – O regime nazista usou propaganda de forma eficaz para mobilizar a população alemã a apoiar suas guerras de conquista até o fim do regime. A propaganda nazista foi igualmente essencial para motivar aqueles que implementaram o assassinato em massa dos judeus europeus e de outras vítimas do regime nazista. Também serviu para garantir a aquiescência de milhões de outras pessoas — como espectadores — à perseguição racialmente direcionada e ao assassinato em massa.
Fonte: Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos; Yad Vashem; ARAUJO, D. C. & HECK, L., 2017.