Emanuel Ringelblum e o Arquivo Secreto Oneg Shabbat
Emanuel Ringelblum, historiador judeu e fundador do Arquivo Secreto Oneg Shabbat no Gueto de Varsóvia, nasceu em Buczacz, Polônia (atualmente parte da Ucrânia). Obteve seu doutorado em História pela Universidade de Varsóvia em 1927 e, desde jovem, envolveu-se ativamente em questões públicas, sendo membro do Po’alei Zion. Durante um tempo, lecionou no ensino médio e, posteriormente, passou a trabalhar para o Comitê de Distribuição Conjunta (Joint Distribution Committee – JDC) na Polônia.
Em novembro de 1938, foi enviado pelo JDC à cidade fronteiriça de Zbaszyn, onde 6.000 refugiados judeus haviam sido expulsos da Alemanha e estavam retidos, sem permissão para entrar na Polônia. Ringelblum permaneceu ali por cinco semanas, auxiliando os refugiados, experiência que marcou profundamente sua visão sobre a necessidade de documentação da tragédia judaica.
Com a invasão alemã à Polônia, em setembro de 1939, Ringelblum continuou seu trabalho no JDC, coordenando programas de assistência social e cozinhas comunitárias para os judeus no Gueto de Varsóvia. Criou Comitês de Bairro para lidar com a crescente privação dentro do gueto e, ao lado de seu amigo Menahem Linder, fundou uma sociedade para o avanço da cultura iídiche (Yidishe Kultur Organizatsye). Desde 1923, participava ativamente de um grupo de historiadores judeus, associado ao Instituto de Pesquisa Judaica (YIVO). Como um de seus principais líderes, Ringelblum publicou 126 artigos acadêmicos até 1939, um prelúdio do que realizaria mais tarde no Gueto de Varsóvia.
O Arquivo Secreto Oneg Shabbat
Nos primeiros meses da guerra, Ringelblum iniciou seu maior projeto: a criação do Arquivo Secreto Oneg Shabbat. O nome, que significa “prazer de sábado”, referia-se originalmente a encontros culturais realizados aos sábados, tornando-se um código para reuniões secretas do grupo. Inicialmente, os arquivistas coletavam relatos de judeus que chegavam ao gueto, buscando documentar suas experiências. Ringelblum colhia informações durante o dia e redigia relatórios à noite, convencido de que a perseguição nazista era sem precedentes e que era fundamental registrar os acontecimentos para a posteridade.
O arquivo continha documentos sobre cidades e vilarejos judeus, sobre o gueto, sobre a resistência judaica e sobre as deportações e o extermínio sistemático dos judeus poloneses. Próximo ao fim da existência do gueto, os arquivistas enviaram relatórios detalhados sobre os assassinatos em massa para a resistência polonesa, que, por sua vez, contrabandeou essas informações para o exterior, ajudando a expor as atrocidades nazistas ao mundo.
Os documentos do Oneg Shabbat foram enterrados em três latas de leite. Dois desses depósitos foram descobertos, um em 1946 e outro em 1950, enquanto o terceiro ainda não foi localizado. Os registros preservados representam uma das mais valiosas fontes de informações sobre os judeus na Polônia ocupada e sobre a magnitude da perseguição nazista.
A Morte de Ringelblum
Em março de 1943, Ringelblum e sua família escaparam do gueto e se esconderam na área não judaica de Varsóvia. Durante a Páscoa Judaica, ele retornou ao gueto, que já estava no meio da revolta. Foi capturado e deportado para o campo de trabalho de Trawniki, mas conseguiu escapar com a ajuda de um polonês e de uma mulher judia. De volta a Varsóvia, voltou a se esconder com sua família. Porém, em março de 1944, seu esconderijo foi descoberto. Pouco depois, Ringelblum, sua família e os outros judeus que estavam com ele foram levados às ruínas do gueto e executados pelos nazistas.
Seus esforços, no entanto, não foram em vão. O Arquivo Oneg Shabbat continua sendo um dos registros mais completos do Holocausto e um testemunho fundamental da resistência judaica contra a opressão nazista.
Fonte: Yad Vashem