Collections – Memorial do Holocausto https://memorialdoholocausto.online Memorando o passado para proteger o futuro Mon, 17 Mar 2025 03:52:40 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8 https://memorialdoholocausto.online/wp-content/uploads/2025/03/favicon_mh.png Collections – Memorial do Holocausto https://memorialdoholocausto.online 32 32 Gás Zyklon B https://memorialdoholocausto.online/collection/gas-zyklon-b/ https://memorialdoholocausto.online/collection/gas-zyklon-b/#respond Sat, 15 Mar 2025 18:46:18 +0000 https://memorialdoholocausto.online/?post_type=collection&p=7767

Inseticida Letal

No final de 1939, já se preparando para as operações de assassinato em massa, os nazistas iniciaram experimentos com gases venenosos em doentes mentais, um processo que chamavam eufemisticamente de “eutanásia”. Esse termo era utilizado para encobrir o extermínio sistemático de alemães considerados “indignos de viver” devido a alguma deficiência física ou mental. Para levar adiante esse projeto, foram criadas seis instalações de extermínio por gás como parte do Programa de Eutanásia: Bernburg, Brandenburg, Grafeneck, Hadamar, Hartheim e Sonnenstein. Nesses locais, utilizava-se monóxido de carbono puro, produzido quimicamente, como método de execução.

Após a invasão da União Soviética, em junho de 1941, e as execuções em massa conduzidas pelas unidades móveis de extermínio (Einsatzgruppen), os nazistas começaram a utilizar asfixia por gás nas chamadas “vans de gás”. Esses veículos eram caminhões hermeticamente fechados, nos quais o escapamento era direcionado para o interior do compartimento, envenenando os prisioneiros com monóxido de carbono. A introdução desse método ocorreu após os membros dos Einsatzgruppen relatarem fadiga e angústia mental devido aos fuzilamentos massivos de mulheres e crianças. Além disso, o uso de gás era considerado um método mais econômico. Essas unidades de extermínio assassinaram centenas de milhares de pessoas dessa maneira, incluindo judeus, ciganos Roma e portadores de deficiência mental.

Em 1941, a liderança das SS concluiu que deportar os judeus para campos de extermínio, onde seriam mortos por envenenamento com gás, seria o método mais eficaz para implementar a “Solução Final”. Ainda naquele ano, os nazistas criaram o campo de Chelmno, na Polônia, onde judeus e ciganos Roma da região de Lodz foram mortos em vans de gás.

Em 1942, teve início o extermínio sistemático em massa nas câmaras fixas de gás, utilizando monóxido de carbono gerado por motores a diesel, nos campos de Belzec, Sobibor e Treblinka, todos localizados na Polônia. Ao chegarem nesses locais, as vítimas eram retiradas dos vagões de gado sob o pretexto de que seriam “desinfetadas” nos “chuveiros”. Muitas eram espancadas pelos guardas nazistas e seus colaboradores ucranianos, que também as insultavam. Os prisioneiros eram obrigados a entrar nas câmaras de gás com os braços erguidos para que coubessem mais pessoas, acelerando assim o processo de extermínio.

Buscando métodos ainda mais eficientes, em setembro de 1941, os nazistas realizaram experimentos com o gás Zyklon B no campo de Auschwitz, na Polônia. Cerca de 600 prisioneiros de guerra soviéticos e 250 prisioneiros doentes foram envenenados durante os primeiros testes. O Zyklon B, em forma de comprimido, liberava um gás letal ao entrar em contato com o ar. Devido à sua ação rápida, foi adotado como principal método de extermínio em Auschwitz, onde, no auge das deportações, até 6.000 judeus eram mortos diariamente.

Embora não fossem oficialmente campos de extermínio, os campos de concentração de Stutthof, Mauthausen, Sachsenhausen e Ravensbrück também possuíam câmaras de gás. Essas câmaras eram relativamente pequenas e destinadas à eliminação de prisioneiros considerados “inaptos” para o trabalho pelos nazistas. Na maioria desses campos, o Zyklon B era o agente exterminador utilizado nas câmaras de gás.

FONTE: Disponível em: https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/gassing-operations. Acesso em: 11/03/2025.

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Roupinhas de Crianças https://memorialdoholocausto.online/collection/roupinhas-de-criancas/ https://memorialdoholocausto.online/collection/roupinhas-de-criancas/#respond Sat, 15 Mar 2025 18:43:27 +0000 https://memorialdoholocausto.online/?post_type=collection&p=7765

Por Trás de Cada Réplica, uma Infância Destruída

Quando os judeus eram forçados a se mudar para guetos ou deportados para campos de concentração, os nazistas os privavam da maioria de seus pertences, limitando drasticamente a quantidade de objetos que podiam levar consigo. Mesmo depois de presos, os nazistas restringiam o fluxo de quaisquer itens que pudessem chegar às mãos dos judeus, fosse por meio de familiares no exterior ou de organizações de caridade.

A mudança das crianças que foram escondidas precisava ser rápida e discreta, e, por isso, elas eram obrigadas a deixar para trás os poucos pertences que possuíam. A maioria levava consigo pouco mais do que algumas roupas. Devido à escassez provocada pela guerra, era difícil conseguir vestimentas novas, por isso as famílias ou organizações que as recebiam as vestiam com roupas usadas ou feitas de retalhos.

Na foto, as peças de roupa são réplicas de vestimentas doadas por sobreviventes a Museus do Holocausto ao redor do mundo. Elas carregam um profundo valor emocional, pois cada uma pertenceu a alguém que vivenciou os horrores do Holocausto.

FONTE: Disponível em: https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/hidden-children-daily-life?parent=pt-br%2F7711. Acesso em 16 mar 2025

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Vestido de Lola Kaufman https://memorialdoholocausto.online/collection/vestido-de-lola-kaufman/ https://memorialdoholocausto.online/collection/vestido-de-lola-kaufman/#respond Sat, 15 Mar 2025 18:42:28 +0000 https://memorialdoholocausto.online/?post_type=collection&p=7762

Um Elo com o Passado

 

Este vestido de linho, leve e fresco, foi usado por Lola Rein por no mínimo um ano durante o período em que precisou se esconder para escapar da perseguição nazista. Costurado e bordado com carinho por sua mãe, o vestido, originalmente feito para os dias quentes de verão, tornou-se sua única vestimenta ao longo de sua fuga.

Lola teve que sobreviver escondida debaixo de uma cama e, posteriormente, em um buraco cavado no chão de um celeiro. Quando precisou deixar o esconderijo, vagou pelas ruas sem abrigo e sem família, enfrentando o rigoroso inverno apenas com aquele vestido fino. Apesar do frio extremo e das condições adversas, ela jamais se desfez da peça, pois era seu único vínculo material com sua mãe e sua antiga vida.

Após muito sofrimento, Lola foi acolhida por um casal de judeus, que a ajudou a sobreviver até ser encontrada por seu tio, que nunca desistiu de procurá-la. Muitos anos depois, já adulta, Lola decidiu doar o vestido ao museu e compartilhar sua história, garantindo que as memórias daqueles tempos difíceis jamais fossem esquecidas.

 

Fonte: Yad Vashem; USHMM.

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Zoltan Farkas https://memorialdoholocausto.online/collection/zoltan-farkas/ https://memorialdoholocausto.online/collection/zoltan-farkas/#respond Sat, 15 Mar 2025 18:40:45 +0000 https://memorialdoholocausto.online/?post_type=collection&p=7760

Zoltan Farkas é filho de Jeno Farkas e Frieda Frenkel Farkas. Ele nasceu em 29 de dezembro de 1927 em Ombod, Romênia, onde seu pai era dono de uma loja de artigos gerais e sua mãe trabalhava meio período como costureira e ajudava na loja. Zoltan tinha quatro irmãos mais novos, Erwin (n. 1929), Eva (n. 1931), Judit (n. 1932) e Henrietta (n. 1935) e um meio-irmão mais velho, Miksa-Sholom.

Zoltan frequentou a escola pública romena e o cheder à tarde. Em 1939, Zoltan foi estudar em uma escola judaica em Miscolz, onde seu tio lecionava, e mais tarde foi estudar em uma yeshiva katana, essencialmente um cheder glorificado. Ele era muito religioso e visitou o rebe Satmar várias vezes.

Em 1940, a Hungria ocupou parte da Transilvânia, incluindo Ombod, e a família Farkas experimentou um antissemitismo crescente. Jovens judeus foram recrutados para brigadas de trabalho forçado húngaras. Entre eles estava o meio-irmão de Zoltan, que foi enviado para a frente russa na Ucrânia, onde morreu.

Na primavera de 1944, o exército alemão marchou para a Hungria, e a cidade passou por uma transição pacífica para o domínio alemão. No entanto, em dois meses, todos os judeus da região foram deportados para Auschwitz. A polícia húngara, sob ordens alemãs, reuniu todos os judeus da vila em uma sala de aula e de lá os transportou de carroça para um gueto em Satu Mare. Em maio, eles foram enviados em vagões de gado fechados para Auschwitz.

Ele e sua família, exceto seu pai, que foi levado em um transporte anterior, foram transportados para Auschwitz no terceiro transporte, no feriado de Shavuot. Após a seleção na chegada, Zoltan e Erwin foram enviados para o trabalho e o resto da família foi imediatamente morto. Zoltan foi tatuado com o número A-7897 e Erwin com o número A-7899.

Depois de passar vários dias em Auschwitz, Zoltan e Erwin foram enviados para Buna-Monowitz. Todos os dias eles marchavam para trabalhar em uma enorme fábrica com pessoas de toda a Europa, incluindo prisioneiros de guerra britânicos. Depois de alguns meses no campo, os irmãos tiveram a sorte de serem designados para o shlosser commando, commando 90, onde o trabalho era mais fácil e uma companhia de prisioneiros britânicos também trabalhava.

O Kapo da brigada de trabalho era um werbrecher (criminoso) alemão que permitia que os prisioneiros de guerra britânicos dessem sua sopa extra aos irmãos. Isso evitou que os irmãos passassem fome.

Quando os russos chegaram em janeiro de 1945, Buna foi evacuado em grupos de 3.000. Pela primeira vez, os irmãos foram separados. Erwin foi com o primeiro grupo; Zoltan foi com o segundo grupo. Depois de uma marcha de dez milhas, os prisioneiros foram levados para um celeiro, e os irmãos conseguiram se reunir.

Eles então foram carregados em vagões abertos sem comida ou água, exceto neve, e depois de dez dias, eles chegaram em Oranienburg. Por um mês, eles ficaram em um grande hangar, mas quando as tropas britânicas se aproximaram do campo, os irmãos foram novamente evacuados. Eles foram a pé e depois de trem para Flossenbuerg antes de serem evacuados pela terceira vez por trem de carga.

Em Scharzenfeld, aviões americanos metralharam o trem, destruíram a locomotiva e mutilaram alguns prisioneiros. Depois disso, os prisioneiros continuaram a pé em uma marcha da morte em direção a Dachau. Os guardas alemães atiraram e mataram aqueles que não conseguiram acompanhá-los. Tanques americanos os alcançaram e libertaram os prisioneiros em 23 de abril de 1945.

Zoltan havia perdido seus tamancos de madeira, então um soldado americano o chamou e fez um oficial alemão capturado tirar suas botas e entregá-las a ele. Os irmãos chegaram a um campo de prisioneiros de guerra russos libertados, onde receberam comida e abrigo. Havia uma companhia do exército americano nas proximidades, e um soldado judeu, Norman Barish, providenciou para que os irmãos trabalhassem para o exército americano.

De Stulon, eles foram para Schwandorf e de lá para um campo de jovens em Indersdorf administrado pela UNRRA. Erwin permaneceu em Indersdorf enquanto Zoltan retornou à Romênia para ver se algum parente havia retornado e para recuperar as fotografias da família e os objetos de valor enterrados.

Ele descobriu que era mais fácil retornar à Romênia do que deixá-la novamente. Ele foi ajudado pela Bricha, mas ainda assim foi preso e enviado para uma prisão austríaca por quatro dias. Ele então passou um mês em um campo de DP na zona britânica da Áustria e depois um curto período em Feldafing. Lá, ele soube que Erwin havia sido transferido nesse meio tempo para um orfanato em Prien, Alemanha.

Zoltan se reuniu com ele lá, e os dois irmãos imigraram para a América em dezembro de 1946 a bordo do Marine Marlin.

FONTE: https://collections.ushmm.org/search/catalog/pa1143643

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Próteses e Muletas https://memorialdoholocausto.online/collection/proteses-e-muletas/ https://memorialdoholocausto.online/collection/proteses-e-muletas/#respond Sat, 15 Mar 2025 18:40:01 +0000 https://memorialdoholocausto.online/?post_type=collection&p=7758

Coleções históricas

O Museu do campo de concentração de Auschwitz abriga dezenas de milhares de artefatos com características, significados e simbolismos únicos. Milhares de pares de sapatos, 3,800 bagagens, das quais 2,100 conservam os nomes de seus proprietários, mais de 12 mil utensílios de cozinha, 470 próteses e órteses, 397 roupas listradas do campo e cerca de 4,100 obras de arte estão entre os acervos do Museu. Os itens mais assustadores são os que pertenciam aos prisioneiros, como suas roupas, anéis de sinete feitos em cativeiro e bonecas feitas à mão. O Museu de Auschwitz também possui itens pertencentes à guarnição da SS responsável por realizar o extermínio em massa.

Disponível em: https://www.theauschwitztours.com/pt/auschwitz-birkenau-memorial-and-museum/. Acesso em: 12 de mar. 2025

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Propaganda Nazista https://memorialdoholocausto.online/collection/propaganda-nazista/ https://memorialdoholocausto.online/collection/propaganda-nazista/#respond Sat, 15 Mar 2025 18:37:11 +0000 https://memorialdoholocausto.online/?post_type=collection&p=7756

Moldando a Opinião Pública

A propaganda nazista foi cuidadosamente planejada e aplicada ao longo dos anos. Antes de assumir o poder, o partido de Hitler utilizou uma propaganda de adesão para conquistar a simpatia do povo alemão. Esse processo durou mais de uma década, até que, em 1933, Hitler chegou ao poder como Reich. A partir desse momento, os nazistas usaram a propaganda de forma eficaz para obter o apoio de milhões de alemães, primeiro em um regime democrático e, posteriormente, em uma ditadura, facilitando a perseguição, a guerra e, por fim, o genocídio.

Desempenhando um papel fundamental na perseguição e destruição dos judeus na Europa, a propaganda nazista incitou o ódio e fomentou a indiferença em relação ao destino dessa população. Os nazistas, propagandistas habilidosos, utilizaram técnicas publicitárias sofisticadas e a tecnologia mais avançada da época para disseminar suas mensagens. Os estereótipos e imagens veiculados não eram inéditos, mas já eram familiares ao público-alvo.

Uma vez no poder, Adolf Hitler criou um Ministério de Iluminação Pública e Propaganda para moldar a opinião pública e o comportamento alemão. Em 1933, foi estabelecido o Ministério do Reich de Esclarecimento Público e Propaganda, liderado por Joseph Goebbels. O objetivo desse ministério era garantir que a mensagem nazista fosse amplamente comunicada por meio da arte, música, teatro, cinema, literatura, rádio, materiais educacionais e imprensa.

A propaganda nazista era direcionada a diferentes públicos. Aos alemães, era constantemente reforçada a ideia da luta contra inimigos estrangeiros e da suposta subversão judaica. Nos períodos que antecederam legislações ou medidas executivas contra os judeus, campanhas propagandísticas criaram um ambiente permissivo à violência, como ocorreu em 1935, antes das Leis Raciais de Nuremberg, e em 1938, antes da onda de legislação econômica antissemita após a Kristallnacht. Além de incentivar a violência, a propaganda promoveu a passividade e a aceitação das medidas impostas pelo governo nazista, retratando-o como um agente de “restauração da ordem”.

Outro tema recorrente na propaganda nazista foi a discriminação, real ou percebida, contra alemães étnicos em países do leste europeu que ganharam territórios às custas da Alemanha após a Primeira Guerra Mundial, como Tchecoslováquia e Polônia. A estratégia buscava reforçar a lealdade política e a consciência racial entre essas populações, ao mesmo tempo em que tentava enganar governos estrangeiros, incluindo as Grandes Potências Europeias, para fazer parecer que as exigências da Alemanha nazista por concessões e anexações eram justificáveis.

Com a invasão alemã da União Soviética, a propaganda nazista intensificou a associação entre comunismo soviético e judaísmo europeu, apresentando a Alemanha como defensora da cultura “ocidental” contra a “ameaça judaico-bolchevique”. Esse discurso ganhou ainda mais força após a derrota alemã em Stalingrado, em fevereiro de 1943, sendo utilizado para mobilizar tanto civis quanto soldados, policiais e auxiliares não alemães nos territórios ocupados. Essa abordagem pode ter sido instrumental para convencer nazistas e não nazistas, bem como colaboradores locais, a continuar lutando até o fim.

O papel dos filmes – Em particular, desempenharam um papel importante na disseminação do antissemitismo racial, da superioridade do poder militar alemão e da maldade intrínseca dos inimigos, conforme definido pela ideologia nazista. Os filmes nazistas retratavam os judeus como criaturas “sub-humanas” infiltradas na sociedade ariana. Por exemplo, The Eternal Jew (1940), dirigido por Fritz Hippler, retratava os judeus como parasitas culturais errantes, consumidos por sexo e dinheiro. Alguns filmes, como The Triumph of the Will (1935), de Leni Riefenstahl, glorificavam Hitler e o movimento nacional-socialista. Outras duas obras de Riefenstahl, Festival of the Nations e Festival of Beauty (1938), retratavam os Jogos Olímpicos de Berlim de 1936 e promoviam o orgulho nacional pelos sucessos do regime nazista nas Olimpíadas.

O papel dos jornais – Jornais na Alemanha, acima de tudo Der Stürmer (O Atacante), publicaram charges que usavam caricaturas antissemitas para retratar os judeus. Depois que os alemães começaram a Segunda Guerra Mundial com a invasão da Polônia, em setembro de 1939, o regime nazista empregou propaganda para convencer civis e soldados alemães de que os judeus não eram apenas sub-humanos, mas também inimigos perigosos do Reich alemão. O regime visava obter apoio, ou pelo menos aquiescência, para políticas destinadas a remover os judeus permanentemente das áreas de assentamento alemão.

Encobrindo atrocidades e assassinatos em massa – Durante a implementação da “Solução Final”, o assassinato em massa dos judeus europeus, oficiais da SS nos centros de extermínio obrigaram as vítimas do Holocausto a manterem o engano necessário para deportar os judeus da Alemanha e da Europa ocupada da forma mais suave possível. Oficiais de campos de concentração e centros de extermínio forçaram os prisioneiros, muitos dos quais logo morreriam nas câmaras de gás, a enviar cartões-postais para casa, afirmando que estavam sendo bem tratados e vivendo em boas condições. Dessa forma, as autoridades dos campos usaram propaganda para encobrir atrocidades e assassinatos em massa.

Em junho de 1944, a Polícia de Segurança Alemã permitiu que uma equipe da Cruz Vermelha Internacional inspecionasse o campo-gueto de Theresienstadt, localizado no Protetorado da Boêmia e Morávia (atualmente, República Tcheca). A SS e a polícia haviam estabelecido Theresienstadt, em novembro de 1941, como um instrumento de propaganda para consumo doméstico no Reich Alemão. O campo-gueto foi usado como justificativa para os alemães que estavam intrigados com a deportação de judeus alemães e austríacos idosos, veteranos de guerra deficientes ou artistas e músicos conhecidos localmente “para o Leste” para “trabalho”. Em preparação para a visita de 1944, o gueto passou por um programa de “embelezamento”. Após a inspeção, oficiais da SS no Protetorado produziram um filme usando moradores do gueto como demonstração do suposto tratamento benevolente que os “residentes” judeus de Theresienstadt desfrutavam. Quando o filme foi concluído, oficiais da SS deportaram a maior parte do “elenco” para o centro de extermínio de Auschwitz-Birkenau.

Em resposta à crescente conscientização internacional sobre as atrocidades nazistas, os nazistas decidiram permitir que um comitê de investigação da Cruz Vermelha visitasse o gueto de Theresienstadt, na Tchecoslováquia. Medidas elaboradas foram tomadas para disfarçar as condições no gueto e retratar uma atmosfera de normalidade. Essa filmagem, que mostra uma apresentação orquestral, é parte de um filme de propaganda alemão feito após a visita da Cruz Vermelha a Theresienstadt.

Mobilizando a população – O regime nazista usou propaganda de forma eficaz para mobilizar a população alemã a apoiar suas guerras de conquista até o fim do regime. A propaganda nazista foi igualmente essencial para motivar aqueles que implementaram o assassinato em massa dos judeus europeus e de outras vítimas do regime nazista. Também serviu para garantir a aquiescência de milhões de outras pessoas — como espectadores — à perseguição racialmente direcionada e ao assassinato em massa.

Fonte: Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos; Yad Vashem; ARAUJO, D. C. & HECK, L., 2017.

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Passaportes https://memorialdoholocausto.online/collection/passaportes/ https://memorialdoholocausto.online/collection/passaportes/#respond Sat, 15 Mar 2025 18:36:41 +0000 https://memorialdoholocausto.online/?post_type=collection&p=7754

Marcas com propósito

Durante o Holocausto, os passaportes desempenharam um papel crucial na tentativa de escapar da perseguição nazista. No entanto, a partir de 1938, os nazistas começaram a implementar políticas específicas para controlar os movimentos dos judeus, marcando seus passaportes de forma a dificultar suas fugas e restringir suas viagens. Essas políticas incluíam a inserção de marcas e documentos especiais que identificavam os judeus, além das tentativas de eliminação dos meios legais de fuga.

A Marcação dos Passaportes com a Letra “J” – A partir de 1938, os nazistas impuseram uma nova medida para facilitar a identificação de judeus, marcando seus passaportes com a letra “J” vermelha. Essa marcação foi obrigatória para todos os judeus que possuíam passaportes alemães. O objetivo dessa medida era tornar mais fácil a identificação dos judeus durante as tentativas de fuga ou em viagens internacionais. O “J” indicava claramente que o portador do passaporte era judeu e, portanto, alvo de perseguição, além de restringir seus direitos de deslocamento.

A marcação com a letra “J” tornou as viagens dos judeus muito mais complicadas, já que muitos países recusavam a entrada de indivíduos identificados como judeus, mesmo que eles possuíssem vistos ou passaportes válidos. Esse procedimento estava alinhado com a política de exclusão e segregação crescente que os nazistas impunham aos judeus, forçando-os a viver em condições cada vez mais restritivas.
Confisco de Passaportes e Restrição de Movimentos – Nos anos seguintes à introdução da marcação com a letra “J”, os nazistas começaram a adotar políticas mais rígidas, como o confisco de passaportes judeus. O objetivo dessa medida era eliminar qualquer possibilidade de fuga. Quando os judeus eram capturados ou forçados a se mudar para guetos ou campos de concentração, seus passaportes eram frequentemente confiscados pelas autoridades nazistas. Isso impedia que os judeus viajassem para outros países, mesmo que tivessem tentado obter vistos ou permissão para escapar da perseguição.

Esses passaportes confiscados dificultavam ainda mais as tentativas de fuga e aumentavam a sensação de aprisionamento entre os judeus, que eram forçados a viver sob as crescentes restrições impostas pelo regime nazista. Além disso, a proibição de viajar e a retirada dos passaportes contribuíam para a criação de uma população de refugiados em vários países europeus, que se viam sem documentos válidos e sem qualquer forma legal de escapar.

Passaportes de Proteção e Falsificados – Apesar dessas medidas de controle e restrição, diversas pessoas e organizações tentaram ajudar os judeus a escapar da perseguição, emitindo passaportes de proteção ou falsificando documentos. Um exemplo notável foi o trabalho do diplomata sueco Raoul Wallenberg. Em 1944, Wallenberg emitiu passaportes suecos chamados Schutzpasses, que garantiam a proteção dos judeus e os livravam da deportação para os campos de concentração. Esses passaportes foram em grande parte responsáveis por salvar milhares de vidas na Hungria.

Além disso, outros diplomatas, como Aristides de Sousa Mendes, cônsul de Portugal, também emitiram passaportes para refugiados judeus. Em 1940, Sousa Mendes desafiou ordens superiores e emitiu passaportes portugueses para milhares de judeus que estavam na França, ajudando-os a escapar para Portugal e, de lá, seguir para países neutros. Muitos judeus também utilizaram o Passaporte Nansen, um documento criado pela Liga das Nações para refugiados de guerra, incluindo alguns judeus que fugiram da perseguição nazista.

Considerações – A partir de 1938, a marcação dos passaportes com a letra “J” e o subsequente confisco de passaportes pelos nazistas dificultaram enormemente as tentativas de fuga dos judeus, tornando-os mais vulneráveis à perseguição e à deportação. No entanto, alguns diplomatas e organizações humanitárias conseguiram driblar as restrições nazistas, emitindo passaportes de proteção e falsificados, permitindo que milhares de judeus escapassem das garras do regime. Esses passaportes, muitas vezes arriscados, foram um dos poucos meios de salvação durante um dos períodos mais sombrios da história.

Referências Bibliográficas: BARNOUW, Dagmar. Raoul Wallenberg: O homem que desafiou os nazistas. São Paulo: Editora Planeta, 2007. SIEGEL, Jacob. Raoul Wallenberg: A história de um herói da Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Editora Record, 1999. MENDES, Aristides de Sousa. Sousa Mendes: O Cônsul que Salvou Vidas. Lisboa: Editora Caminho, 1995. RUMER, Gennadi. Refugees, Passports, and Diplomacy during the Holocaust. Washington: University Press, 2001. Passaportes de Proteção no Holocausto. The United States Holocaust Memorial Museum. Disponível em: https://www.ushmm.org. Acesso em: 01 mar. 2025.

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Trabalho Forçado no Gueto de Lodz https://memorialdoholocausto.online/collection/trabalho-forcado-no-gueto-de-lodz/ https://memorialdoholocausto.online/collection/trabalho-forcado-no-gueto-de-lodz/#respond Sat, 15 Mar 2025 18:36:03 +0000 https://memorialdoholocausto.online/?post_type=collection&p=7750

Adicione o texto do seu título aqui

 

Os nazistas submeteram milhões de pessoas ao trabalho escravo sob condições brutais. A partir do inverno de 1933, com o estabelecimento dos primeiros campos de concentração e instalações de detenção, o trabalho forçado tornou-se uma das principais atividades nesses locais. Frequentemente sem qualquer propósito além da humilhação, os prisioneiros eram obrigados a trabalhar sem equipamentos adequados, vestimenta apropriada, alimentação suficiente ou períodos de descanso.

O Trabalho Forçado Antes da Guerra
Mesmo antes da Segunda Guerra Mundial, os nazistas já impunham trabalho forçado aos cidadãos judeus alemães, tanto dentro quanto fora dos campos de concentração. Em 1937, para aumentar seus lucros e suprir a falta de mão de obra, o regime nazista intensificou a exploração dos chamados “inimigos do Estado”. No final desse ano, a maioria dos judeus do sexo masculino na Alemanha já havia sido forçada a trabalhar como escravos ou semi-escravos para órgãos do governo.

Expansão do Trabalho Escravo com a Guerra
Com a invasão da Polônia em 1939, os nazistas impuseram trabalho compulsório para todos os homens poloneses, judeus ou não. Ao mesmo tempo, os judeus foram forçados a deixar suas casas e a viver em guetos, onde eram explorados em trabalhos braçais. No gueto de Łódź, por exemplo, o trabalho forçado tornou-se parte da estrutura econômica, e 96 fábricas foram instaladas para produzir armamentos e suprimentos para a Alemanha nazista.

A partir da primavera de 1942, com mudanças na administração dos campos de concentração, o número de pessoas submetidas ao trabalho forçado cresceu significativamente.

Trabalho Forçado e a “Solução Final”
Com a implementação da “Solução Final”, o extermínio sistemático dos judeus europeus, o trabalho escravo passou a ser uma das poucas formas de sobrevivência para aqueles considerados aptos ao trabalho. Os judeus e outros prisioneiros que não podiam trabalhar eram geralmente os primeiros a serem executados ou deportados para campos de extermínio.

Além disso, os nazistas aplicaram a política de “aniquilação através do trabalho”, impondo condições extremas e fatais a certos grupos de prisioneiros. No campo de Mauthausen, por exemplo, prisioneiros desnutridos eram forçados a subir 186 degraus de uma pedreira carregando pedras pesadas, o que frequentemente os levava à morte.

Trabalho Forçado na União Soviética e Outras Regiões
Após a invasão da União Soviética, em junho de 1941, milhões de prisioneiros de guerra soviéticos (POWs) morreram devido a uma política deliberada de negligência, que incluía a privação de comida, roupas, abrigo e assistência médica.

No entanto, a partir da primavera de 1942, os nazistas passaram a utilizar os prisioneiros soviéticos em diversas áreas da economia de guerra. Entre 1942 e 1944, cerca de três milhões de cidadãos soviéticos foram deportados para trabalhar como escravos na Alemanha, Áustria, Boêmia e Morávia.

No final da guerra, milhares de trabalhadores forçados não alemães foram abandonados na Alemanha, incluindo dezenas de milhares de judeus que sobreviveram às políticas nazistas de deportação e extermínio.

Conclusão
O trabalho forçado foi uma ferramenta essencial da máquina de guerra nazista, tanto para exploração econômica quanto para o extermínio sistemático de populações perseguidas. Para muitos prisioneiros, trabalhar significava uma chance mínima de sobrevivência, mas, em inúmeros casos, o próprio trabalho era uma sentença de morte.

 

Disponível em: https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/forced-labor-an-overview?series=109. Acesso em: 12 de mar. 2025

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Miriam Nekrycz https://memorialdoholocausto.online/collection/miriam-nekrycz/ https://memorialdoholocausto.online/collection/miriam-nekrycz/#respond Sat, 15 Mar 2025 18:30:34 +0000 https://memorialdoholocausto.online/?post_type=collection&p=7748

O relato de Miriam Nekrycz como sobrevivente do Holocausto compreende as várias fases da Guerra, passando pelas ocupações soviética e nazista da Europa Oriental até a libertação dos campos de concentração.

Ainda adolescente, ela experimentou as tribulações dos sobreviventes judeus, como uma refugiada ansiosa por deixar a Europa e chegar a Eretz-Israel, a despeito do bloqueio naval britânico.

Após testemunhar os primeiros dias do estabelecimento do Estado de Israel e a Guerra de Independência de 1948, ela decidiu passar alguns meses no Brasil – sem saber que adotaria esse país como seu novo lar.

Miriam Nekrycz registrou seu testemunho como sobrevivente do Holocausto em seu livro Relato de uma Vida, publicado no Brasil em 1995.

O livro inicia-se com a viagem de Miriam e Ben Abraham para a Polônia e a Ucrânia, depois da queda da cortina de ferro. Durante a viagem de trem de Varsóvia a Kiev, ela podia lembrar-se dos nomes das cidades que, nos séculos passados, fervilhavam de vida judaica.

Na Polônia, o casal visitou Auschwitz, Treblinka e Majdanek. Em Auschwitz, Ben Abraham não pôde conter suas lágrimas ao chegar ao local onde foi separado de sua mãe. Na área onde ficava o campo de Treblinka, somente as pedras restavam para simbolizar as aldeias e povoados de onde os judeus foram trazidos diretamente para a morte. O campo de Majdanek era agora tão próximo ao centro de Lublin que podia ser visto da estrada, pois os nazistas não tiveram tempo de destruí-lo antes da chegada do Exército Vermelho.

A chegada a Luck dá início ao relato sobre a infância de Miriam. A vida era boa para os judeus de Luck nos anos 1930. Seus avós paternos tinham um armazém de cereais; seu avô passava a maior parte do tempo estudando a Torá, enquanto seu pai – o filho mais velho – gerenciava a loja com a mãe. Dois de seus filhos haviam imigrado para Eretz Israel; uma das filhas tinha se casado e mudado para os Estados Unidos.

A família materna de Miriam também era estável: a avó, viúva, conseguiu criar os sete filhos administrando uma loja de sapatos durante a Primeira Guerra Mundial. Um dos filhos mudou-se para o Brasil após viver alguns anos em Eretz Israel com a família.

A família toda celebrava o Shabbat em uma sinagoga no bairro de Wulka, onde moravam. Embora passasse a maior parte do tempo entre parentes e amigos judeus, Miriam frequentava uma escola municipal com crianças católicas, onde os professores não discriminavam crianças judaicas. Contudo, às vezes, ela ouvia crianças polonesas gritando algo como “Judeus para a Palestina”. Ela não entendia o que essas palavras significavam.

No inverno de 1938 para 1939, os pais de Miriam abriram uma nova loja de tecidos. Na mesma época, nasceram seus irmãozinhos – um casal de gêmeos. Eram tempos felizes, apesar de algumas tribulações: um dia, a empregada simplesmente jogou água fervente em um dos bebês, que sofreu queimaduras graves. Aparentemente, ela o fizera de propósito.

Um dia, a pequena Miriam ouviu os adultos discutindo sobre a invasão da Polônia pela Alemanha nazista. Então, de repente, a guerra começou para sua família: a cidade foi bombardeada pelos alemães, e seu pai enviou a família para uma cidade menor, onde poderia estar mais segura. Dentro de mais alguns dias, chegaram as notícias sobre o pacto germano-soviético: a Polônia seria dividida em duas e eles estavam do lado soviético dos territórios ocupados.

Voltaram então para Luck, e a vida parecia seguir seu curso normal novamente. Enquanto isso, milhares de refugiados judeus cruzavam o Rio Bug para fugir da Alemanha ocupada pelos nazistas. A comunidade judaica de Luck recebeu muitos deles em suas casas, inclusive a família de Miriam, que acolheu uma jovem chamada Hella. Ela havia fugido com sua irmã, mas elas se perderam durante a viagem. Embora a família de Miriam a tratasse como sua própria filha, Hella chorava com frequência, por seus pais e por sua irmã.

Logo os soldados e oficiais soviéticos chegaram a Luck e começaram a impor suas regras sobre os territórios ocupados. Na escola, foram abolidas as aulas de religião, bem como as de polonês: agora, ucraniano e russo eram as línguas que as crianças deveriam aprender. A doutrinação infantil baseada em valores patrióticos também era intensa: Stalin era apresentado como um pai amoroso, cujos gloriosos atos de coragem eram exaltados em músicas e filmes exibidos às crianças.

Os pais de Miriam decidiram fechar a loja para evitar a perda das mercadorias. Como os soldados soviéticos queriam comprar tudo usando a velha moeda polonesa, que não valia mais nada, vender a mercadoria significava perdê-la, e era perigoso recusar-se a vendê-la.

A escola judaica religiosa foi fechada e o prédio foi transformado no “Palácio dos Pioneiros”. Os pioneiros eram crianças e jovens que haviam jurado sempre estar prontos para servir a Rússia. No Palácio, não havia distinção entre crianças judias e não judias.

Mas eram dias perigosos, principalmente para os ricos: a polícia secreta soviética invadia suas casas, confiscava seus bens, prendia os homens e os enviava para a Sibéria. Um dia, vieram à casa de Miriam procurando por Hella, pois ela havia se cadastrado para voltar para a Polônia ocupada pelos alemães. Os russos decidiram prender todas as pessoas que haviam se cadastrado no programa de retorno e deportá-las para a Sibéria. O pai de Miriam conseguiu trazê-la de volta para casa, mas ela não ficou muito tempo. Pouco depois, os oficiais soviéticos voltaram e a levaram. Nunca mais a viram.

Como não podia mais manter a loja, o pai de Miriam conseguiu um emprego em uma lanchonete. Enquanto isso, os antigos oficiais poloneses, que antes eram ricos e arrogantes, já não moravam mais no belo bairro de Urzędniczej Kolonii. Agora, oficiais soviéticos ocupavam o lugar.

A primavera de 1941 parecia feliz para Miriam, até a chegada de 22 de junho. Naquela data, a pequena Miriam acordou no meio da noite com o estrondo de uma explosão: a Alemanha havia invadido a Polônia ocupada pelos soviéticos e todos estavam em pânico, incluindo os oficiais soviéticos, que começaram a fugir de volta para a Rússia com suas famílias.

A família de Miriam não tinha para onde ir. Os alemães lançaram bombas incendiárias por todo o bairro, e tudo estava em chamas. As pessoas fugiam de suas casas e reuniam-se às margens do Rio Styr para tentar escapar do fogo, mas os aviões alemães voavam sobre elas e as metralhavam.

Eles conseguiram fugir para uma aldeia não bombardeada, mas os alemães chegaram lá três dias depois. Foram forçados a retornar a Luck, junto a uma multidão de refugiados, e descobriram que sua casa havia virado escombros. Decidiram mudar-se para a casa da avó de Miriam, dividindo-a com outros parentes.

Os nazistas logo começaram a perseguição aos judeus, auxiliados por milícias ucranianas formadas por voluntários. Todos os homens da cidade foram convocados para o trabalho forçado no primeiro domingo da ocupação nazista. Cerca de dois mil judeus se apresentaram – e nunca mais foram vistos. Na quinta-feira seguinte, um novo decreto convocava todos os homens judeus, e assim o pai e o tio de Miriam foram para o local designado onde supostamente seriam levados para o trabalho, juntamente com outros três mil homens judeus – os quais também nunca mais voltaram. Sua mãe ficou só com as quatro crianças: Miriam, Moniek e os dois bebês gêmeos.

Dia após dia chegavam novos decretos: judeus tinham que usar uma estrela amarela; judeus não podiam andar na calçada; judeus não podiam frequentar lugares públicos; judeus tinham que descobrir a cabeça quando vissem um soldado alemão. Aqueles que não seguissem as ordens seriam executados imediatamente.

Aproximadamente 25 mil judeus viviam em Luck antes da Segunda Guerra Mundial. No começo da ocupação nazista, cinco mil judeus foram levados pelos alemães. Aqueles que ficaram para trás eram principalmente mulheres, crianças e idosos.

Miriam escreve em seu livro que, de uma hora para outra, a criança tornou-se adulta, tentando ajudar a mãe a sustentar a família de quatro crianças. Ela trocava utensílios da casa por comida, mas as crianças estavam sempre com fome. Enquanto isso, novos decretos chegavam para os judeus: eles deveriam entregar quaisquer objetos de valor que ainda possuíssem para o Judenrat, um tipo de concílio judaico que tinha sido criado pelos nazistas – ao qual, segundo Miriam, judeus corretos e honrados jamais se voluntariavam. Muitos ucranianos tiravam vantagem da situação e pilhavam as casas dos judeus. A casa da família de Miriam também foi pilhada por um ucraniano que fingiu que lhes traria algum alimento.

Os prisioneiros russos também sofriam nas mãos dos nazistas; de fato, foram transformados em um espetáculo público do qual até mesmo os judeus se compadeciam.

Curiosamente, muitos soldados da Wehrmacht viviam em um prédio ao lado da casa onde a família de Miriam estava, mas eles não molestaram os judeus. Certa noite, um alemão invadiu a casa, e a pequena Miriam e seu primo pularam a janela e fugiram para o prédio dos alemães. Embora fossem proibidos de sair de casa à noite, os alemães não os molestaram, mas entraram na casa e expulsaram o invasor.

No entanto, outros alemães vieram à casa procurando por couro, seguindo a indicação de um sapateiro polonês que havia vivido em meio aos judeus, dos quais tirara seu sustento durante muitos anos. Mas agora, ele havia se tornado um espião e insistia que a família de Miriam tinha couro escondido na casa. Os alemães vieram várias vezes. Até o forro do teto foi removido na busca, mas nada foi encontrado. Parecia que o sapateiro tinha a expectativa de “herdar” o que pertencia aos judeus, assim como muitos de seus vizinhos poloneses e ucranianos.

Diferentemente dele, um pastor protestante que vivia na mesma área nunca tentou tirar nada deles. Em vez disso, ele lhes dava alguns dos legumes que cultivava em sua horta. Ele também concordou em esconder a máquina de costura da tia de Miriam em sua casa, para impedir que fosse confiscada.

 

Disponível em: https://benabraham.org/pt-br/miriam-nekrycz/a-guerra-chega-a-luck/. Acesso em: 13 de mar. 2025

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Luiz Martins de Souza Dantas (1876-1954) https://memorialdoholocausto.online/collection/luiz-martins-de-souza-dantas-1876-1954/ https://memorialdoholocausto.online/collection/luiz-martins-de-souza-dantas-1876-1954/#respond Sat, 15 Mar 2025 18:29:51 +0000 https://memorialdoholocausto.online/?post_type=collection&p=7746

Desafiando Ordens para Salvar Vidas

 

Luiz Martins de Souza Dantas foi embaixador do Brasil na França a partir de 1922. Durante a invasão alemã em 1940, testemunhou o desespero dos refugiados que tentavam escapar da perseguição nazista. Ciente das restrições impostas pelo governo brasileiro à imigração judaica, ele buscou formas de contornar essa proibição e salvar o maior número possível de vidas.

Em outubro de 1940, obteve autorização do Ministro das Relações Exteriores, Oswaldo Aranha, para conceder vistos excepcionais a refugiados. No entanto, Souza Dantas foi além dessa permissão oficial. Desobedecendo as diretrizes governamentais que proibiam a emissão de vistos a “indesejáveis”, ele concedeu centenas de vistos para judeus e não judeus perseguidos pelo regime nazista.

Graças às suas ações, muitas pessoas conseguiram escapar da França ocupada e buscar refúgio em outros países, incluindo o Brasil. No entanto, nem todos os beneficiados conseguiram partir a tempo. O governo brasileiro, ao descobrir suas ações, planejou puni-lo, mas quando medidas disciplinares estavam sendo discutidas, Souza Dantas já havia se aposentado, garantindo assim sua imunidade.

Ele faleceu em Paris em 1954, sem ter recebido o devido reconhecimento por seu heroísmo em vida. Somente em 2003, sua coragem foi oficialmente reconhecida quando foi declarado Justo entre as Nações pelo Yad Vashem, a maior honraria concedida a não judeus que arriscaram suas vidas para salvar judeus durante o Holocausto.

Fonte: Yad Vashem. Collections.

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