O Papel do Grande Mufti na Política do Oriente Médio
Amin al-Husayni nasceu em Jerusalém, no final do século XIX, em uma família árabe influente. Estudou em Jerusalém, Cairo e Istambul antes de ingressar no exército otomano em 1910. Em 1921, foi nomeado Grande Mufti de Jerusalém pelos britânicos, tornando-se a principal liderança religiosa da comunidade muçulmana palestina sob o Mandato Britânico.
Na década de 1930, al-Husayni assumiu a liderança do movimento nacionalista árabe e se tornou um opositor ferrenho da presença judaica na Palestina. Em 1936, presidiu o Alto Comitê Árabe e liderou a Revolta Árabe contra o domínio britânico e a imigração judaica. O levante incluiu greves gerais, ataques violentos e assassinatos. Nesse período, proibiu a venda de terras para judeus e exigiu a independência da Palestina.
Após a repressão britânica, fugiu para o Líbano em 1937 e, mais tarde, para o Iraque, onde se aliou a Rashid Ali al-Kailani, líder do golpe de Estado pró-alemão em 1941. Com a derrota do governo iraquiano pelos britânicos, al-Husayni fugiu para a Alemanha nazista, onde se encontrou com Adolf Hitler e apoiou a propaganda antissemita nazista no mundo árabe.
O Grande Mufti e o Farhud
O Farhud foi um pogrom contra os judeus em Bagdá, ocorrido nos dias 1º e 2 de junho de 1941, e marcou um ponto de virada na história da comunidade judaica iraquiana.
Na década de 1940, cerca de 135.000 judeus viviam no Iraque, sendo a maioria residente em Bagdá. Apesar de possuírem plenos direitos civis desde a independência do Iraque, em 1932, o crescimento do nacionalismo árabe e da propaganda nazista aumentou a hostilidade contra os judeus.
Em 1941, um golpe militar liderado por Rashid Ali al-Kailani estabeleceu um governo pró-alemão no Iraque. A influência nazista cresceu, e figuras como Yunis al-Sab’awi fomentaram o antissemitismo no país. Durante esse período, al-Husayni consolidou sua relação com os nazistas e ajudou a difundir a ideologia antissemita na região.
Quando os britânicos derrubaram o governo pró-Eixo, milícias árabes, membros do partido Futtuwa e ex-soldados do regime deposto iniciaram ataques contra os judeus de Bagdá. Durante o Farhud, judeus foram assassinados brutalmente, mulheres foram estupradas, e casas e lojas foram saqueadas. O massacre resultou em cerca de 150 a 180 mortos, 600 feridos e mais de 1.500 estabelecimentos judaicos destruídos.
As causas do Farhud incluíram:
– Propaganda nazista e influência de al-Husayni no Iraque;
– Nacionalismo árabe crescente, que via os judeus como aliados dos britânicos;
– O colapso do governo pró-Eixo, que gerou um vácuo de poder e facilitou o ataque contra os judeus.
O impacto do Farhud foi profundo. A violência abalou profundamente a comunidade judaica iraquiana, levando muitos judeus a fugir para o Irã, Beirute ou tentar chegar à Palestina. Apesar da estabilização política após o retorno da monarquia pró-britânica, a confiança dos judeus na sua segurança foi irrevogavelmente destruída.
Com a crescente perseguição antissemita e novas restrições legais, o sentimento sionista cresceu entre os judeus iraquianos. Em 1951, cerca de 124.000 judeus (de um total de 135.000) emigraram para Israel, marcando o fim de uma comunidade judaica que existia há mais de dois mil anos no Iraque.
O Farhud é lembrado como um evento decisivo, sendo frequentemente comparado a um “prenúncio do Holocausto no mundo árabe”.
Conclusão
Amin al-Husayni foi uma figura central e controversa na política do Oriente Médio durante o século XX. Sua aliança com os nazistas, seu papel na disseminação do antissemitismo árabe e sua influência no Iraque contribuíram para o aumento da hostilidade contra os judeus na região.
O Farhud simboliza esse período de ódio e violência, e suas consequências foram sentidas por décadas, resultando no quase total desaparecimento da comunidade judaica iraquiana.
Fontes:
ESTHER MEIR-GLITZENSTEIN (USHMM)
VIEIRA, Maria Clara. Quem foi o líder palestino que ajudou Hitler e fomentou o antissemitismo. Gazeta do Povo, abr. 2024.