Crianças Perseguidas e Assassinadas
As atrocidades cometidas pelos nazistas e os horrores da guerra forçaram muitas crianças a amadurecer precocemente. Uma jovem sobrevivente descreveu essa experiência de forma comovente: “pessoas velhas com rosto de criança, sem nenhum traço de alegria, felicidade ou inocência infantil.”
Diante dessa realidade brutal, as crianças aprenderam a improvisar brincadeiras e jogos, aproveitar as raras oportunidades de aprendizado que surgiam e lutar pela sobrevivência com coragem. Suas experiências variavam conforme as circunstâncias. Algumas conseguiram manter uma rotina relativamente normal, frequentando escolas e interagindo com outras crianças. Outras, no entanto, passaram a infância escondidas em casas, porões, florestas e até galinheiros, vivendo na solidão, no medo e na privação. Para estas últimas, ler, brincar e outras formas de expressão criativa eram as únicas formas de escapar, mesmo que temporariamente, das condições desesperadoras.
Mesmo nos guetos e campos de concentração, as crianças judias encontravam consolo nas brincadeiras. Os brinquedos e jogos, ainda que escassos, ajudavam a criar uma ilusão de normalidade, proporcionando breves momentos de alegria. Para aquelas que viviam escondidas, os poucos brinquedos preservados ou improvisados tinham um valor imenso, fortalecendo os laços afetivos tanto com as famílias que as acolhiam quanto com os pais biológicos ou parentes desaparecidos.
A educação, sempre central na cultura judaica, foi drasticamente restringida sob o regime nazista. As crianças que aparentavam ser “arianas” e conseguiam frequentar a escola viam isso como um ato de resistência. Já as que viviam escondidas tinham poucas oportunidades de estudo formal, mas tentavam aprender por meio de leituras e redações.
A Perseguição e o Extermínio
Durante o Holocausto, as crianças foram especialmente vulneráveis, sendo alvo da política de extermínio nazista. O regime via os jovens pertencentes a grupos “indesejáveis” como uma ameaça à sua ideologia racial. Cerca de 1,5 milhão de crianças foram assassinadas, incluindo um milhão de crianças judias, além de dezenas de milhares de crianças ciganas, polonesas, soviéticas e crianças com deficiências físicas ou mentais.
As chances de sobrevivência eram maiores para adolescentes entre 13 e 18 anos, pois podiam ser enviados para o trabalho escravo. O destino das crianças judias e não judias pode ser dividido em várias categorias:
- aquelas assassinadas imediatamente ao chegarem aos campos de extermínio;
- as que morriam ao nascer ou em instituições onde eram mantidas;
- as que eram escondidas por outros prisioneiros e conseguiram sobreviver;
- crianças exploradas como escravas ou vítimas de experiências médicas;
- as que foram mortas em represálias nazistas contra os partisans.
Apesar de toda essa vulnerabilidade, muitas crianças conseguiram sobreviver roubando ou trocando bens por comida e remédios. Além disso, alguns jovens participaram de movimentos de resistência, e muitos fugiram para acampamentos organizados por partisans judeus.
O Pós-Guerra e a Busca por um Novo Lar
Após a rendição da Alemanha nazista e o fim da Segunda Guerra Mundial, milhares de órfãos começaram a procurar suas famílias por toda a Europa. Muitos deles participaram do êxodo em massa conhecido como Brihah, que os levou para a Alemanha Ocidental com o auxílio da organização Youth Aliyah (Imigração Jovem). Eventualmente, essas crianças foram reassentadas no Yishuv, a área de colonização judaica no Mandato Britânico da Palestina.
Em 14 de maio de 1948, com a proclamação do Estado de Israel, muitos dos sobreviventes finalmente encontraram um novo lar, encerrando uma infância marcada pelo sofrimento e pela resiliência.
Fonte:
USHMM. United States Holocaust Memorial Museum. Children during the Holocaust, 2025.